O2Cast é o podcast da O2 Filmes e traz toda semana convidados para debater assuntos ligados à produção audiovisual.

Vamos receber de volta o indigenista e documentarista Vincent Carelli. Ele já esteve conosco em 2021 para conversar sobre o projeto “Vídeo Nas Aldeias” voltado à formação de cineastas indígenas nas aldeias e sobre o curta Yankwá – Imagem e Memória. Dessa vez vamos conversar sobre o longa, Adeus, Capitão, que aborda a trajetória de vida de Kokrenum, líder do povo indígena Gavião, habitante do sul do Pará. 

Por meio de um retrato amplo, que cobre décadas da sua vida, revela-se uma história de muita luta para a manutenção da cultura da sua comunidade. Líder carismático e com senso político, o Capitão morreu com mais de 90 anos e deixou um legado à sua gente. É um filme comovente e esclarecedor sobre a questão indígena e o relacionamento dos povos originários com os brancos. Lançado em abril de 2022, o filme participou de festivais e mostras como o É Tudo Verdade, o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, a Mostra de Cinema de Ouro Preto, a Mostra Ecofalante de Cinema e o Sheffield DocFest, no Reino Unido. É  considerado pela crítica um dos grandes filmes do ano passado.

Na conversa conduzida por Tais Okamura, redatora e pesquisadora independente do Departamento de Pré-Produção e colaboradora do O2Cast, o diretor relembra desde os primeiros contatos com Kokrenum e conta que o filme é a devolução final de todos os registros da história, traduzindo no diálogo com os indígenas o compromisso com rituais, cantos e a cultura desse povo e disponibilizando de volta a memória do Capitão, falecido em 2016, para os jovens gaviões.

Os longas anteriores de Carelli, Corumbiara e Martírio compõe com Adeus Capitão, uma trilogia que aponta como sobrevivem os povos indígenas. Neste último filme Kokrenum é o líder guerreiro, temido e com autoridade que também era um grande cantor, negociador e defensor de seu patrimônio cultural.

O diretor comenta a parceria com a co-diretora e montadora Tatiana Almeida e compartilha que agora montam o quarto longa que deverá abordar sua vivência nas comunidades indígenas e suas lembranças afetivas.

Os 37 anos da escola de cinema Vídeo Nas Aldeias, que já formou gerações de cineastas e arrebanhou um acervo considerável de material de propriedade dos indígenas, a ser preservado foi um dos temas abordados na conversa. Também foram lembradas as dificuldades que o retrocesso cultural do país durante o último governo ocasionaram.

No final da gravação o diretor fez reflexões sobre a situação da Amazônia e dos povos originários, o desmatamento, o genocídio imposto aos indígenas Yanomanis, o desastre ambiental e a esperança apenas na consciência das novas gerações sobre o alcance da tragédia climática. E de seu legado para a juventude. Documentário é um documento, concluiu o Mestre Vicent Carelli.

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