O2Cast é o podcast da O2 Filmes e traz toda semana convidados para debater assuntos ligados à produção audiovisual.

A edição 86 do O2Cast recebe o diretor Joel Zito Araújo, um dos responsáveis pela implantação do chamado cinema negro, tanto na ficção quanto no documentário, com filmes que debatem o racismo e a desigualdade entre negros e brancos. Ele é roteirista, produtor, pesquisador, escritor, doutor em ciências da comunicação pela ECA/USP e com pós-doutorado na Universidade do Texas.

Seu último filme “O Pai da Rita“, que estreou na Mostra de Cinema de São Paulo de 2021, discute em tom de comédia a história da paternidade dentro da comunidade negra, sempre envolta em muito abandono e irresponsabilidade masculina. O filme foi realizado em SP e tem como personagens dois velhos sambistas da Vai Vai.

Sempre muito atuante, Joel relembra sua trajetória de ávido expectador das 3 salas de cinema que existiam em Nanuque-MG, onde nasceu, e sua formação em psicologia e mestrado em Sociologia da Educação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Conta que participou do movimento cineclubista negro, suas atividades militantes em prol da cultura, da criação do circuito operário de cineclubes em 16 milímetros e da produção de filmes e vídeos para entidades sindicais na década de 80, quando começou a realizar trabalhos autorais, como “Nossos Bravos“. Realizou vários curtas e medias sobre o tema racial, como “Alma Negra da Cidade” (1990), “São Paulo Abraça Mandela” (1991) e “Retrato em Preto e Branco” (1992), trabalhos que discutem o negro como agente ativo da cultura brasileira e questionam ideias como a “democracia racial”. Estas produções dos 10 primeiros anos de sua carreira, foram reunidas numa Mostra recentemente.

Sobre seu documentário “Meu Amigo Fela” de 2019, lançado em Roterdã, com enfoque no músico Fela Kuti, mais conhecido na Europa e  Estados Unidos, mostrando a cena cultural da África contemporânea, Joel diz que o filme ganhou prêmios importantes, circula ainda em festivais e, potencializou sua carreira internacional. O diretor tem forte relação com a África e especialmente Cabo Verde, onde montou em 2010 um curso de cinema com 14 profissionais brasileiros.

Entrevistado por Fernando Tiezzi, assistente de direção e colaborador do O2Cast, Joel contou que em 1994 ganhou uma bolsa de estudos americana para pesquisar o cinema negro dos Estados Unidos.

Joel Zito detalhou a feitura da pesquisa sobre a historia do negro na telenovela brasileira, a contratação de jovens pesquisadores para auxilia-lo e o gratificante resultado do trabalho que sedimentou seu doutorado na ECA/USP. Em 2000 lançou o documentário “A Negação do Brasil”, sobre a trajetória do negro nas novelas brasileiras. A pesquisa também deu origem a um livro homônimo. “Este trabalho me tornou um nome nacional, ‘A Negação do Brasil’ virou referência como filme e como livro” – conta Joel. Ele também conversou sobre o documentário “Raça” que dividiu com a premiada cineasta americana Megan Mylan, com temática sobre a participação do negro na sociedade.

O diretor concluiu que o cinema hoje está mais inclusivo. Ele enxerga que há uma emergência negra com identificação de talentos na Europa, Estados Unidos e Brasil e coloca que jovens negros contemporâneos veem o cinema como uma forma de expressão. Lembra ainda que as sociedades americanas e brasileiras não conseguem discutir a questão da escravidão e a Europa tem pendente a questão da imigração.

Ele finaliza chamando atenção para as produções realizadas na Coreia, Nigéria e na África do Sul, uma explosão narrativa de novos realizadores.

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