O2Cast é o podcast da O2 Filmes e traz toda semana convidados para debater assuntos ligados à produção audiovisual.

Na edição 90 do O2Cast , o diretor Quico Meirelles conversa com Déo Cardoso, roteirista e diretor que lançou em 2021 Cabeça de Nêgo, um filme de drama brasileiro. O filme aborda a discussão sobre o racismo e a precariedade do sistema educacional público brasileiro. Produzido e distribuído pela Corte Seco Filmes, fez sua estreia mundial na Mostra de Cinema de Tiradentes em 2020, onde foi ovacionado de pé ao final da sessão. É protagonizado por Lucas Limeira e conta ainda com as participações de Jéssica Ellen, Nicoly Mota, Carri Costa, Mateus Honori e Val Perré. O elenco é composto majoritariamente por atores negros, praticamente desconhecidos no sudeste brasileiro.

O longa foi premiado na Mostra de Cinema de Gostoso (voto popular), Troféu Olhar do Ceará no Festival Cine-Ceará e foi eleito o Melhor Longa-metragem Cearense pela Associação Cearense de Críticos de Cinema. Também foi licenciado pela plataforma Globoplay, onde está em catálogo. A produção foi exibida no exterior como o Festival de Cinema de La Plata (Argentina) e no International Film Festival (EUA). Em fevereiro de 2022 a Associação Brasileira de Críticos de Cinema elegeu Cabeça de Nêgo como melhor filme nacional de 2021. 

Déo Cardoso conta sua formação cinematográfica no Colégio de Realização e Dramaturgia no Instituto Dragão do Mar de Fortaleza, em paralelo à Faculdade de Publicidade. Fala que nasceu nos Estados Unidos e que, acompanhando a vida profissional de seu pai, morou no Acre, onde  conheceu Chico Mendes e Marina Silva, e que os movimentos sociais sempre estiveram dentro de sua casa. Também residiu em Goiás, Belém, Fortaleza e no Rio de Janeiro, onde enfrentou dificuldades para trabalhar com cinema. Voltou para os Estados Unidos com a sua aceitação para mestrado em duas universidades americanas: Columbia e Ohio. Optou por Ohio em 2002, pelas condições melhores e relembra que o empenho era realizar seus projetos e filmes. (formado pela Escola de Cinema da Ohio University –  mestrado em 2005 onde venceu o prêmio Billman Fine Arts Award, pelo roteiro do curta “Port of Rafts”).

Em 2008, após o termino do curso, as boas condições para os  projetos culturais estavam no Brasil, com a ocorrência de muitos editais e estimulo  oficial às produções, e decidiu retornar à Fortaleza, realizando documentários e curtas. No curta de 2009 Pode Me Chamar de Nadi abordou a negritude na infância (filme está disponível no Youtube). O diretor contou para Quico Meirelles como surgiu a historia do Cabeça de Nêgo, a pre-produção e o financiamento do filme cujo roteiro foi contemplado no Edital Baixo Orçamento Afirmativo de longas-metragens da Agencia nacional de Cinema/Ministério da Cultura (2016). Déo registra que foi o primeiro e último edital nestes moldes de políticas públicas voltadas para quem historicamente está fora das decisões artísticas, culturais e econômicas.

Para Déo Cardoso o trabalho de direção começa na escrita e está sempre se encantando para escrever e dirigir. Ele falou de sua intensa preparação para o set, detalhando as cenas noturnas e aquelas que registraram a rebelião que Quico comenta que imprimiram um grande valor de produção.

Complementam as conversas temas como estratégia de direcionamento do longa ao público alvo. Para Déo o plano é trazer entretenimento e ao mesmo tempo casar com um teor de politização. Seu filme é dirigido aos jovens da periferia. “É um filme rap que vai consolidando o aprendizado sobre personagens importantes para o movimento negro”. O diretor compartilha com emoção as reações do público nas apresentações e conta que responde às criticas mostrando que a historia apresenta pessoas lutando pela educação. Ele espera que seu longa futuramente seja visto como um filme temporal que registrou condições que existiam na virada da década de 2010 para 2020. Cabeça de Nêgo é arte e deve conseguir levar pessoas à reflexão.

Quico induz Déo a comentar sobre a efervescência do cinema preto, contando historias pretas para finalmente dar vazão à estas narrativas represadas que não tinham espaço no cinema brasileiro. O diretor emociona o ouvinte com a visão do papel que o grupo de diretores pretos deve desempenhar na cultura brasileira.

Déo Cardoso adianta informações sobre seu próximo projeto e dá preciosas dicas para futuros cineastas. Valiosas!

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